Esse texto foi escrito em 2007, mas nunca mostrei pra ninguém. Hoje soube que Dr. Oswaldo faria 84 anos e resolvi que era hora de contar essa história.
Deco, é pra você!
DECO E O DR. OSWALDO
São incríveis as teias que a vida
tece e os encontros que ela nos proporciona ao longo do percurso. Vivo cercada
de grandes coincidências, por exemplo, que me deixam sempre de boca aberta e
com a absoluta certeza de que nada nesse mundo é por acaso.
Conheci Deco Fiori há quatorze
anos, quando entrei no grupo vocal Maite-Tchu. Ele, Symô, Cacala e Magda
Belotti, ao lado de Fred Biasotto e Antonio Carlos Lobo, os
arranjadores, procuravam a soprano que pudesse ocupar a vaga que Aline Cabral
acabara de deixar, por ter aceito o convite para participar do grupo Be Happy.
Não vou entrar nos detalhes dessa
história, porque ela vale um texto próprio, já que também é um outro caso de
inusitadas coincidências na minha vida. Mas o fato é que, uma vez aceita nesse
grupo, estava ali formada uma turma que seguiria junta através dos anos em
milhares de projetos de diversas naturezas musicais, em shows, gravações e
muitos grupos filhotes do Maite-Tchu.
Deco tornou-se um grande amigo e
uma figura importante em momentos muito decisivos da minha vida. Descobrimos
coisas interessantes que margearam nossas vidas desde que nascemos e que
poderiam já ter encurtado o caminho para que nos conhecêssemos muitos anos
antes. Por exemplo, o fato de termos morado nas mesmas ruas em nossa infância e
adolescência, às vezes até no mesmo quarteirão, dividirmos os mesmos amigos e
jamais termos nos esbarrado. Quando nos conhecemos, morávamos um na esquina do
outro! E hoje moro em seu apartamento em Copacabana, de onde ele se mudou, no
exato momento em que eu precisava arrumar um espaço para mim. Providência
divina e muita camaradagem de meu amigo querido.
Tudo isso que escrevi foi para
contar que precisaram passar quatorze anos de convivência intensa e quase
diária para que minha ficha caísse...
Não sei por que, eu, que sou até
bem antenada para nomes, datas, ligações familiares, contatos, essas coisas,
nunca havia ligado o nome do Deco àquele homem que tantas vezes vi na minha
casa e de quem me escondia embaixo da cama de minha mãe com pavor, só de ouvir seu
nome, porque associava “Dr. Oswaldo” a algum médico que pudesse inventar de
querer me dar uma injeção, coisa que eu temia e odiava com todas as minhas
forças, do alto de meus quatro anos de idade!
Dr. Oswaldo Mendonça foi o
incansável e carinhoso advogado que cuidou do processo de minha irmã, quando
ela foi presa pela ditadura militar nos bicudos anos 70. Foi um nome muito
importante na história jurídica brasileira, sempre defendendo causas nobres, ao
lado do lendário Sobral Pinto.
Entrou em minha casa através de
uma amiga em comum e tornou-se um grande amigo da minha família, de lá saindo
apenas quando o processo foi concluído, muito tempo depois. Perderam o contato pelos anos e
meus pais nunca conheceram a fundo a sua história pessoal, mas guardaram para o
resto da vida a gentileza do homem que ajudou a minha irmã, sem cobrar um
centavo por isso, já que o amigo passou à frente do profissional.
Deco nunca teve oportunidade de
falar de mim para o seu pai, pois quando nos conhecemos ele havia acabado de
falecer. Dr. Oswaldo com certeza se lembraria da menina que fugia dele e daquela
família amiga que havia conquistado e ajudado tanto com seu talento e senso de
justiça. Minha irmã ouve hoje essa história muito comovida, minha mãe se
impressiona e não acredita e eu sigo pensando que o mundo realmente só tem três
pessoas e uma esquina.
Março de 2007 – revisado em 05 de
junho de 2016
Eu e Deco em São Paulo - 1997 |