Em meados dos anos 90, a Lapa
ainda não era o que se tornaria pouco tempo depois. Mas as rodas de samba e
choro ferviam pela cidade e os bons projetos pipocavam, já abrindo espaço para
uma boa safra de músicos e cantores que mais tarde habitariam para sempre o
reduto do samba. Eu começava, tudo começava, meu mundo musical se definia.
Sempre experimentando de tudo que me dava prazer. Passei a frequentar as rodas
de choro, envolvida que estava com a música de Sergio Pina, com quem me
apresentei em um belo show na ABI. Nessa, fui convidada por Mauricio Verde para
uma participação em um show na UERJ em homenagem ao Noel Rosa e, por conta
disso tudo, numa dessas rodas da vida, me vi envolvida com um grupo maravilhoso
de samba e choro, uma moçada que, como eu, se definia musicalmente e procurava
parcerias.
O Dobrando a Esquina era formado
por Lenildo Gomes, Marcelo Menezes, Luciane Menezes e Paulino Dias naquele ano
de 1995. Lenildo me procurou e me propôs que fizéssemos um show juntos em um
projeto maravilhoso que a prefeitura promovia pelas praças do Rio. Nem
pestanejei, aceitei na hora e, numa tarde de setembro, adentrou a minha casa
esse povo bom ao lado do grande Lefê, um produtor da pesada, historiador e
roteirista, fundador de praticamente todos os blocos famosos que surgiram nos
anos 80 e existem até hoje, além de ter batizado e dirigido por anos a fio, a famosa casa de samba
Carioca da Gema. Mas, voltando ao assunto, nossos encontros renderam ótimas tardes
de papo e boa música, roteirizadas por esse “cabra bom” chamado Lefê. Fizemos
lindos shows juntos na Gamboa, Praça São Salvador, Centro da Cidade, era uma
alegria, um grande prazer. O grupo era uma farra, além de animados, eram todos
músicos excelentes que caminhavam a passos largos para uma carreira
consistente, como a história mostrou. Junto com o Dobrando a Esquina e o Lefê,
chegou também na minha “aldeia afetiva” a Joana, filha dele, muito menina e já
tão decidida, que depois virou uma grande produtora e hoje trocou a música pela
psicologia, o que a faz muito feliz! Bons tempos de histórias boas de reviver.
Recordo isso tudo porque soube
agora que partiu o Lefê no final de 2015 e me deu uma tristeza profunda, porque
sempre tive vontade de procurá-lo para um “revival” do show Dobrando a Esquina
e Marianna, mas a correria dos dias vai empurrando com a barriga vontades,
desejos e ideias, nas quais deveríamos apostar mais. Lição aprendida, tristeza
do momento. Mas, ao mesmo tempo, um orgulho de olhar para trás e perceber a
trilha rica percorrida.
Saravá Lefê, que os anjos e
orixás te recebam de braços abertos e muito obrigada pelo tempo que convivemos,
aprendi muito e fui muito feliz!
16 de dezembro de 2016
Lenildo, Marcelo, Paulino (de chapéu), Lefê (de barba), eu e Luciane |
A Praça São Salvador foi um dos ambientes que frequentei na minha adolescência, já que nasci e morei na Rua Senador Vergueiro, bem próxima àquele aprazível logradouro. Lamentavelmente, grupos de samba e choro ainda não animavam o ambiente. De 1992 a 2012 estabeleci-me em Brasília, por razões profissionais. Essa ausência impediu-me de acompanhar o brilho de uma estrela que despontava.
ResponderExcluirFoi bem nesse período que você passou em Brasilia que essa história se deu. Aliás, a minha carreira começou de fato nesse tempo. Mas passei por BSB muitas vezes com meus trabalhos. Você chegou a assistir algum show por lá?
ResponderExcluirEssa foto é exatamente na Praça São Salvador. Foi um show excelente, lotado de gente, lembro com muita alegria.
A estrada já é longa e intensa, o que me da muito orgulho.
Obrigada sempre pelo carinho e participação, Julio!
Um beijo
Um texto muito bonito, Marianna, escrito à base de sentimento, memória e gratidão. Pena eu conhecer a Lapa somente como turista e por pouquíssimo tempo. Seria muito legal acompanhar a narrativa com o cenário mais vivo na "tela"... Depois me diga o nome completo do Lefê, tenho interesse em saber das histórias dele. Beijos,
ResponderExcluirLogo depois que meu pai morreu foi lançado um livro de memórias musicais que ele tinha acabado de escrever... Chama-se Lapa 2000: Memórias de um produtor musical. Ele fez também um filme "Eis aí a Lapa"
ExcluirQuer ver isso tudo, Joana, vou atras!
ExcluirVeja Eloy, essa resposta complementa a que fiz pra você!
beijos
Eloy, realmente a Lapa virou um fenômeno maravilhoso, que ainda se mantém, mas sem o mesmo frisson do começo dos anos 2000. Vale a pena conhecer ainda.
ResponderExcluirO Lefê era um craque, estou mesmo muito triste com essa noticia. Você pode saber mais sobre ele no Dicionário Cravo Albin: http://www.dicionariompb.com.br/
Tentei pescar a página especifica do Lefê, mas meu computador está lento hoje e não consegui entrar. Mas foi lá que dei uma checada nas informações sobre ele.
Beijos e muito obrigada, fico feliz de saber que você está acompanhando meus movimentos por aqui ;-)
É, Dinda, você é rodadinha, musicalmente falando, né? rs... Pena que só vim a conhecer a Lapa bem mais tarde. Só vim a te conhecer mais tarde também. Fazer o quê, né? Mas ainda bem que conheci.
ResponderExcluirBeijos!
Rodadissima, Dannysita hahahahaha! Já fiz "de um tudo", mas brincadeiras a parte, experimentei um bocado nessa vida. E isso é o que da o tempero da minha trajetória e o sentido do meu trabalho hoje. O que faço hoje é um extrato de toda essa experiencia, dessa curiosidade que sempre me moveu e ainda move. Acho que por isso gosto de apostar em projetos diferentes.
ResponderExcluirEu conheci a pré-Lapa, quando tudo estava começando por lá, nessa fase de revitalização. Depois frequentei um bom tempo, curti bem. Hoje ando sumida de lá, mas hoje meu papo é a família, o trabalho e a roça ;-)
É isso, querida, tenho é muito orgulho dessa caminhada toda!
Bom te ver aqui, sempre.
Muitos beijos
Lindo e emocionante texto, Marianna!
ResponderExcluirBons e bem vividos tempos! É isso que levamos conosco!
Muito grata por suas lembranças.
beijo carinhoso
Querida Joana, que bom recebe-la aqui na minha casa virtual!
ResponderExcluirForam mesmo, tempos deliciosos, e recorda-los nos da a medida certa de como vivemos bem e aproveitamos as oportunidades dos bons encontros, não é mesmo?
Um beijo enorme e meu carinho pra sempre! E venha me visitar quando quiser, ok?
Vi essa galera nascendo nos corredores da Ufrj fazendo parte da Companhia Folclórica so Rio. Orgulho de fazer parte dessa história. Alex
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